Escrito por João Cinda (pseudónimo)
“Intendente”. A carruagem segue a abarrotar e o Mundo inteiro decidiu esborrachar-se numa mistela de carne, casacos e malas de viagem. O homem agarrado ao poste vai sair no Rossio, sem dúvida alguma. Ele não mo disse, nunca o vi, jamais o voltarei a ver, mas eu conheço-o tão bem quanto ele me conhece a mim. Eu sou o rapaz desnorteado que ele inveja e despreza e ele é o velho que eu já vi demasiadas vezes com cara infeliz e andar cansado. Na realidade eu não sou nem desnorteado, nem rapaz e ele não é nem infeliz, nem velho. Ele é uma amálgama de carne que se agarrou ao poste, cujo cérebro apenas consegue pensar em ciclos repetitivos. Eu sou tudo o que ele pensa que eu sou. “Rossio”.
Originalmente publicada na fendamel em 16/12/2013