Eu fui um lobo malvado, do álbum Acto Contínuo (1982), irrompeu no Teatro Municipal de Almada pela voz de Jorge Palma, para um concerto esgotado. Recebido no palco almadense com aplausos, Jorge Palma arrancou para uma noite ao sabor da vontade do momento, que ora pedia Mifá, ora pedia Frágil. Dos enganos súbitos, o cantor refazia a música para algo de novo chegar aos ouvidos do público, numa noite para ouvir alguns dos temas de carreira, levando os presentes a deixar-se levar pela sua música. Jorge Palma foi o cantor rendido, foi o professor, o poeta, o conhecedor de piadas secretas e o desajeitado; o descontraído e o vilão. A noite foi breve para tantos e tão diferentes. O Jorge Palma poeta deslumbrou o público com À espera do fim, sem no entanto resistir ao Jorge Palma desajeitado que pediu desculpa por um engano na música e a retomou pelo refrão. O refrão não saía e o cantor repetiu mais uma vez, para à terceira haver refrão e haver Jorge Palma descontraído, a reparar que tinha trocado músicas.
Em tantos anos de carreira, Jorge Palma correu palcos e assumiu o papel de poeta cantor sem intenções de profissionalismo. As suas canções varrem a Música portuguesa e deixam-na à mercê de Portugal, Portugal e outras mais, embora o mesmo Jorge Palma não se iniba de cantar noutra língua. Quem o foi ver actuar no Teatro Municipal de Almada ouviu e viu o que fez Jorge Palma incontornável para a Música portuguesa.
Para última música, Like a Rolling Stone, Jorge Palma fez acreditar que Bob Dylan é português, tem mais de 60 anos e não se importa que lhe peçam um encore.
Originalmente publicada na fendamel em 12/06/2011