Fotografia Luís Pontes Fotografia Luís Pontes Fotografia Luís Pontes
“Hoje é o dia de todos os dias” foram as primeiras palavras cantadas por João Pedro Pais, numa noite de concerto no TMA (Teatro Municipal de Almada). Seguindo pelo último álbum de originais, A Palma e a Mão, a noite foi caminhando pelas restantes músicas, indo de Mentira a Até Nunca Mais, passando por Um Resto de Tudo, com as luzes a alternarem entre JPP e o público, criando uma roda-viva de flashes, de projectores a virar, a apagar, acender, mais brilho, mais frenético.
Ainda o concerto ia verde e já ganhava um contorno intimista, com o público a querer mostrar ao cantor que 14 anos na estrada não passam despercebidos. Foi ouvir a sala a cantar as letras de cor, a antecipar o começo de Um Resto de Tudo, com JPP a explicar o seu nascimento, que foi de um refrão abandonado a umas estrofes à procura de contexto, de história.
Podia o concerto já ter acabado ou nem ter começado; podia ninguém estar na plateia e todos em casa no sofá; podiam as cadeiras estar vazias e o palco deserto; podia nada ter acontecido e perder-se-iam os momentos de improviso que os quatro músicos foram desenhando durante as 2 horas de espectáculo. Não Há revelou-se o auge desta noite, em que João Pedro Pais e o público se pareceram unir verdadeiramente, numa descoberta da música, do improviso procurado pelo cantor e da vontade dos espectadores de pertencer aos 14 anos de carreira. Carreira que foi de Segredos (1997) aos grandes palcos portugueses, passando por colaborações com variados artistas, evoluindo e mostrando-se ao público que o vê como ‘o João’. ‘O João’ parece ter conseguido algo de muito raro em Portugal: chegar ao seu público na língua materna, sem efeitos desnecessários, sem perder o fio condutor, nem se separar de quem o ouve desde Ciúmes da Lua (Segredos).